12 de agosto de 2011

Em fuga da Somália, mãe tem que decidir qual dos filhos salvar da fome

'Eu decidi deixá-lo aos cuidados de Deus na estrada', diz Wardo Yusuf.
Pais andam até 2 semanas para chegar a campo de refugiados no Quênia.

Wardo Mohamud Yusuf, uma refugiada de 29 anos, teve que tomar uma decisão que nenhuma mãe desejaria passar: escolher qual dos filhos salvar da fome após duas semanas de caminhada entre a Somália e o campo de Dadaab, no Quênia.
“Eu decidi deixá-lo aos cuidados de Deus na estrada”, disse a jovem mãe durante entrevista no maior campo de refugiados do mundo. “Tenho certeza de que ele ainda estava vivo, e essa é minha maior dor.”
Quando o menino desmaiou perto do fim da jornada, ela colocou um pouco da água que lhe restava na sua cabeça, para refrescá-lo. Mas ele já estava inconsciente e não conseguia beber.
Mãe cuida de filho no campo de refugiados de Dadaab, no Quênia  (Foto: Reuters)Uma da mães no campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, cuida de filho (Foto: Reuters)
Yusuf andou duas semanas com uma filha de 1 ano nas costas e o filho de 4 anos ao seu lado, fugindo da seca e da fome na Somália, país que teve situação de fome crônica decretada pela ONU. A mais severa seca dos últimos 60 anos afeta 12,5 milhões de pessoas na região conhecida como Chifre da África.
A situação pela qual Yusuf passou não foi a única. Pais deixando a área devastada a pé, muitas vezes com até sete filhos, têm tido de fazer escolhas semelhantes: “Qual dos filhos tem mais chances de sobreviver quando não resta mais água ou comida?” “Qual deve ser deixado para trás?”
“Eu nunca tinha vivido um dilema como este em minha vida”, afirma Yusuf. “Agora, eu estou revivendo a dor de abandonar o meu filho. Acordo à noite pensando sobre ele. Me sinto terrível quando vejo um menino da idade dele.”
O especialista em saúde mental da Comitê Internacional de Refugiados em Dadaab, John Kivelenge, afirma que esta situação extrema têm sido enfrentada por muitos pais em fuga da Somália.
“É uma reação normal numa situação anormal. Eles não podem simplesmente parar e esperar para morrerem juntos”, diz. “Mas após um mês, eles continuam a sofrer distúrbios de estresse pós-traumático, que se manifesta em lembranças e pesadelos.”
“A imagem das crianças que eles abandonam volta a persegui-los. Este pais também vão sofrer com insônia e problemas sociais”, completa o especialista.
Os Estados Unidos estimam que mais de 29 mil crianças somalis abaixo dos 5 anos de idade morreram de fome nos últimos três meses. Um número desconhecido que está fraco demais para continuar a caminhada é deixado pelos pais na estrada de terra, que imaginam que conseguirão socorrê-los depois que conseguirem novos suprimentos de comida e água.g1
 

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