31 de agosto de 2011

Vídeo mostra motorneiro jogar areia em trilhos de bonde para ajudar freios

Imagens foram feitas em fevereiro por turista em bonde de Santa Teresa.
Motorneiro que aparece nas imagens morreu no acidente de sábado (27)

Imagens gravadas por um turista, em fevereiro deste ano, mostram o cuidado do motorneiro Nelson Correa da Silva, que morreu no acidente de sábado (27), na condução do veículo. Cinco pessoas morreram e mais de 50 ficaram feridas.
Com o pé, Nelson aperta o pedal da buzina várias vezes, porque havia um Fusca parado no caminho. Depois de quase meio minuto, o motorista libera a pista e o bonde segue viagem, mas logo pára novamente. O motorneiro salta com um balde e joga areia nos trilhos, o que aumenta o atrito com as rodas e ajuda o veículo a frear.
O registro revela uma situação rotineira para quem circula nos bondes de Santa Teresa. Com o aumento da população (quase 41 mil habitantes), a demanda por transporte cresceu muito. Pela Rua Almirante Alexandrino, cerca de 2.100 veículos circulam por dia. Além das cinco linhas de ônibus que atendem o bairro, também há muitas vans e Kombis.
Um dos diretores da companhia que administra os bondes disse, na terça-feira (30), que mesmo que os 14 bondes da frota estivessem em boas condições, nem a metade sairia da garagem, por causa do trânsito.
“Se não houver uma reorganização viária, não será possível operar com mais do que sete, seis bondes aqui em Santa Teresa. Os cruzamentos estão cada dia mais perigosos, os bondes estão a todo momento sofrendo pequenas batidas com os ônibus de Santa Teresa”, disse Fábio Tepedino, diretor de engenharia da Central.
Já são quatro dias sem bonde. E quem usa o meio de transporte reclama. "O bonde estrutura o bairro, ele é a alma do bairro", diz um morador.
Na quinta-feira (1º), o bonde de Santa Teresa faz 115 anos sem festa e num momento de expectativa sobre o que vai acontecer com o serviço de transporte. Quem também não tem motivo para comemorar são os comerciantes, que já sentem queda no movimento.
"O bonde faz muita falta. Caiu mais ou menos de 60% a 70% o movimento",  disse o dono de um restaurante.
Para o engenheiro de transportes da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio, José Eugênio Leal, a solução seria um projeto de VLTs (veículos leves sobre trilhos) que integrasse Santa Teresa e o Centro da cidade.
"E como transporte público ainda tem uma vantagem: segurança porque as pessoas vão estar num veículo fechado, não vai mais ter aquela coisa de a pessoa estar pendurada, arriscando cair como aconteceu com aquele turista francês. E o transporte vai funcionar para a população como um todo", disse o especialista.
Em relação à imagem do motorneiro jogando areia nos trilhos, o Sindicato dos Ferroviários e o Conselho Regional de Engenharia disseram que é um procedimento normal, usado tanto para bondes novos como antigos.
Interventor que integrar bonde ao trem do CorcovadoO presidente do Detro, Rogério Onofre, nomeado interventor do serviço de bondes, afirmou na tarde desta quarta-feira (31) que estuda a possibilidade de integrar os bondes de Santa Teresa, no Centro do Rio, ao trenzinho do Corcovado. Para isso, segundo ele, seriam necessários investimentos de R$ 800 mil. De acordo com a assessoria do Detro, a integração já existia, mas foi desativada em 2004.

"Isso daria uma viabilidade econômica e financeira muito grande. E seria um passeio fantástico para os turistas", afirmou, em visita à estação de bondinhos no Largo da Carioca, onde vão trabalhar os novos gestores do bonde.
Colegas de trabalho fizeram homenagem ao motorneiro morto no acidente (Foto: Patrícia Kappen/G1)Colegas de trabalho fizeram homenagem na bilheteria ao motorneiro morto no acidente (Foto: Patrícia Kappen/G1)
Ele disse que vai analisar todas as possibilidades para poder apresentar um plano ao governador Sérgio Cabral. Para ele, nem a continuação da prestação do serviço pelo estado e nem a municipalização dos bondes serão deixadas de lado.
Segundo a assessoria do Detro, Onofre esteve na oficina dos bondes em Santa Teresa e conversou com os condutores. Ele pediu que seja feito o levantamento do pessoal e a folha salarial da categoria.
De acordo com a assessoria, o interventor dos bondes disse também que a situação encontrada o surpreendeu negativamente: “é pior do que eu esperava”. Um dos piores pontos apontados por ele é a questão do sistema viário no bairro de Santa Teresa. “É como uma roleta russa, com ônibus, carros e bondes tendo que dividir um espaço estreito sem a devida sinalização ou orientadores de trânsito. É preciso um choque de ordem por parte da Prefeitura nestes locais”, acrescentou.
Na bilheteria do bonde, os colegas de trabalho fizeram uma homenagem colocando a foto do motorneiro morto no acidente.
Investimentos
Mais cedo, o secretário estadual de Transportes do Rio, Júlio Lopes, afirmou que faltaram investimentos nos bondes de Santa Teresa. “De fato o que acontecia é um processo que tínhamos muitas prioridades no governo e não se fizeram os investimentos no bonde no montante que era necessário. Nós investimos recursos significativos, mas não no montante que se poderá investir agora em função dessa trágica ocorrência. O que estou dizendo é que os investimentos que foram feitos precisam ser muito ampliados”, disse ele, pouco antes de se encontrar com o presidente do Detro, Rogério Onofre, que foi nomeado pelo governador Sérgio Cabral como interventor de bondes.
Segundo Júlio Lopes, o valor investido, apesar de significativo, não foi suficiente: “isso é uma opção do governo. O que foi investido foram R$ 14 milhões, que foi um valor significativo, porque ninguém podia imaginar que uma tragédia pudesse acontecer”, afirmou.
Mais cedo, no entanto, Cabral afirmou que não houve falta de investimento no sistema. “Foram R$ 14 milhões em investimentos para a recuperação de bondes e trilhos, isso foi feito. Mas me parece que houve problema de gerência”, acrescentou em evento pela manhã.
O trabalho com o novo interventor de bondes, Rogério Onofre, começou nesta quarta-feira durante reunião com engenheiros e o próprio secretário de Transportes, Júlio Lopes, no prédio da Secretaria de Transportes, em Copacabana.
Bonde em Santa Teresa (Foto: Alba Valéria Mendonça/G)Bonde tombou em Santa Teresa no sábado
(Foto: Alba Valéria Mendonça/G)
Onofre admitiu ser a favor da privatização do serviço. “Pessoalmente eu sou favorável que a iniciativa privada opere aquilo lá (o sistema de bondes). O Detro tem uma facilidade maior porque temos recursos próprios, em caixa. E o governador disse que se existir necessidade o Detro vai injetar recurso para modernizar os bondes”, disse ele.
Treze revisões em um mês
O bonde envolvido acidente no sábado (27) foi para a manutenção 13 vezes em agosto, cinco para consertar o freio. As informações são de um relatório distribuído pela Central, companhia que administra os bondes
A Central informou que possui sete bondes antigos e outros sete reformados. Dos antigos, de acordo com a companhia, apenas um estaria em condições de circular.
Medidas
Os bondes de Santa Teresa vão continuar fora de circulação até que sejam implementadas as medidas de segurança que o governo do estado promete tomar. A principal delas foi a transferência da gestão dos bondinhos, que deixa de ser da Secretaria de Transportes e passa para o presidente do Departamento de Transportes Rodoviários (Detro), Rogério Onofre.
De acordo com o Detro, a intervenção não tem prazo para acabar, e o transporte por bondes continuará suspenso por prazo indeterminado.g1

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