25 de agosto de 2011

Último encontro de pai com brasileiro morto no 11 de Setembro foi no WTC

Ivan Kyrillos, 30 anos, trabalhava no 104º andar de torre atingida por avião.
'É muito difícil lidar com a perda sem um cadáver', diz pai.

11 de setembro de 2001. O dia que ficou marcado na história mundial pelos ataques às torres gêmeas do World Trade Center (WTC) e ao Pentágono, nos Estados Unidos, ainda é lembrado com emoção por familiares dos inocentes mortos nos ataques. Dez anos após o episódio, as vítimas vivas dos atentados procuram conviver com a saudade e seguir adiante.
Em seu consultório na Bela Vista, em São Paulo, o médico Ivan Fairbanks Barbosa guarda, ao lado de miniaturas das torres, diversas fotos do filho Ivan Kyrillos Fairbanks Barbosa, um dos brasileiros mortos no ataque terrorista em 2001.
“O ser humano tem uma capacidade tremenda de se adaptar, e temos que seguir adiante. Eu aprendi a lidar com essa dor, mas para nós, pessoas normais, é muito difícil lidar com a perda de alguém querido sem um cadáver. Fomos algumas vezes ao local dos ataques, inclusive com minha outra filha, para poder compreender melhor a tragédia”, conta o otorrinolaringologista.
O administrador Ivan Kyrillos, à época com 30 anos, estava em Nova York havia dois anos e trabalhava no 104º andar de uma das torres atingidas por aviões sequestrados. Seu maior sonho, retornar ao Brasil depois de conquistar estabilidade financeira, foi interrompido naquela manhã.Eu conversei com ele por telefone na véspera dos ataques e ele havia recebido uma proposta de trabalho, estava perguntando minha opinião. Nós éramos muito próximos, amigos além da relação de pai e filho, estávamos em contato semanalmente. E o maior sonho dele, naquele momento, era conseguir estabilidade financeira e retornar ao Brasil”, diz Ivan, ao lembrar ainda da paixão do filho por velocidade e esportes radicais.
O último encontro entre pai e filho ocorreu justamente em um dos escritórios do World Trade Center, local da tragédia. “Ele me levou até lá meses antes dos atentados para mostrar, orgulhosamente, onde trabalhava. E eu ainda brinquei com a altura do prédio, disse que só o deixaria continuar ali se ele fosse trabalhar de asa delta. Nunca imaginávamos que algo assim pudesse acontecer.”
Ivan assistiu à queda das torres gêmeas em seu consultório. “Eu estava com um paciente quando recebi a ligação de um amigo falando dos ataques. Interrompi a consulta e acompanhei tudo pela televisão, esperando notícias. Alguns minutos depois recebemos a informação de que meu filho estaria fora da torre, falando com um amigo, mas soubemos depois que o contato com esse amigo havia ocorrido por telefone, e que ele estava na torre no momento do atentado”, lembra.
Dias seguidos em frente à televisão e nenhuma informação sobre o filho, até então considerado desaparecido. Uma rede de solidariedade formada por brasileiros e americanos que se tornaram amigos da família após a tragédia espalhou fotos de Ivan pelas ruas e hospitais, mas sem sucesso.
“Recebemos um apoio inacreditável de bombeiros, policiais, jornalistas... Pessoas que quase nos carregaram no colo nesta fase. Eles espalhavam fotos do Ivan por toda a parte, para ver se o encontrávamos. A gente tenta se agarrar a todas as esperanças, então demorou um pouco para acreditar, mas no fundo eu já sabia [que Ivan havia morrido]”, afirma o médico, com os olhos vermelhos.
Hoje, dez anos após os ataques, Ivan conta que a morte do terrorista Osama bin Laden, em maio deste ano, aliviou parte da dor pela perda do filho. “Pode parecer politicamente incorreto, mas a sensação é, em parte, de alívio. É claro que há um vazio que não passa, mas temos que seguir em frente. Tenho outra filha e ela não tem culpa. Acho que, desde aquele dia, descobri que uma forma de lidar com isso era falar do meu filho. Gosto de contar sobre ele. Temos 30 anos de ótimas lembranças para recordar.”
A reportagem entrou em contato com parentes e amigos de pelo menos outros três brasileiros que morreram vítimas dos atentados. Pessoas que conviveram com Anne Marie Sallerin Ferreira, Sandra Fajardo Smith e Nilton Fernão Cunha não quiseram dar entrevistas para comentar o assunto.g1

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