Dois dias após a morte de uma professora durante uma cirurgia plástica em Campina Grande, uma paciente do médico responsável pelo procedimento anunciou que entrou na Justiça contra ele há três anos alegando ter sofrido uma mutilação em uma cirurgia. Segundo a funcionária pública Lúcia Cavalcanti, ela era diretora do Hospital Regional de Picuí quando contratou o médico que trabalhava na unidade e ficou com os seios deformados após a cirurgia.
"Cerca de um mês depois, estranhei os ferimentos e procurei uma amiga médica em João Pessoa para fazer o curativo. Foi quando ela me disse que eu estava mutilada. A minha preocupação hoje é de engravidar e meu filho quando nascer precisar de um leite materno, quando eu não tenho mais como fazer isso", disse a paciente. Segundo ela, o médico já havia realizado várias cirurgias plásticas em Picuí pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O processo pela reconstrução das mamas foi aberto na Justiça em 2008, mas, segundo a advogada Fabiana Agra, está parado desde o ano passado por falta de um laudo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica que comprove o erro médico. Desde o dia 11 de novembro, foi determinada uma multa diária caso o laudo não fosse realizado.
A advogada criticou o que ela chamou de 'corporativismo' entre os médicos, que estariam se protegendo para evitar que um colega de profissão seja considerado culpado. "Não há justificativa de você deixar uma pessoa mutilada por erro médico ou porque o profissional não é qualificado para isso", disse Fabiana Agra.
O médico Aracoeli Ramalho, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica na Paraíba, informou que a instituição não paga nenhum tipo de multa pelo atraso na emissão do laudo técnico e que o Conselho Regional de Medicina (CRM-PB) seria o órgão responsável pelo procedimento.
Já Norberto José da Silva, vice-presidente do CRM na Paraíba, declarou que é responsabilidade da advogada cobrar da Justiça que o caso seja resolvido o mais rápido possível. Segundo ele, os médicos são indicados pelo CRM e escolhidos pela Justiça para fazer a perícia necessária.
Segundo Norberto, o órgão abriu um inquérito administrativo para investigar a conduta do médico durante a cirgurgia à qual Rejane dos Santos Nobre, de 38 anos, se submeteu. A professora fazia uma redução das mamas por recomendação médica e uma lipoaspiração no abdômen. O laudo médico da morte, emitido na terça-feira, apontou que ela sofreu embolia pulmonar, insuficiência respiratória e parada cardiorrespiratória.
Para o vice-presidente do CRM, por não ter registro na Sociedade de Cirurgia Plástica, o médico não seria recomendado para o procedimento. Na quarta-feira (23), durante o enterro na cidade de Alagoa Nova, a mãe Neusa dos Santos informou que não iria acionar o médico na Justiça por entender que a morte da filha foi uma fatalidade e que o profissional não teria culpa.
A reportagem procurou três vezes na quinta-feira (24) o médico citado. Na primeira vez, uma funcionária atendeu à ligação feita ao celular e informou que ele estava em cirurgia em Caruaru, Pernambuco. Na segunda, o telefone estava desligado. Na casa dele em Campina Grande, a família não comentou o assunto e não informou como seria possível fazer contato.g1
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