16 de fevereiro de 2012

Honduras investiga denúncias sobre incêndio que matou 350 em presídio

Autoridades querem saber se houve negligência em Comayagua.
Polícia negou demora em abrir portões para a entrada dos bombeiros.

O governo de Honduras investiga denúncias de negligência durante o incêndio em uma penitenciária no qual 350 detentos morreram em suas celas, sem ajuda, na quarta-feira, na maior tragédia carcerária mundial em uma década.
"Percebemos que aconteceu negligência na abertura dos portões. Devemos fazer uma investigação exaustiva", disse à France Presse o presidente do Comitê para a Defesa dos Direitos Humanos em Honduras, Andrés Pavón.
"A Procuradoria-Geral está a cargo da investigação e estamos cooperando para que tenhamos conclusões preliminares para esclarecer e elucidar responsabilidades neste fato tão lamentável", declarou o ministro da Segurança, Pompeyo Bonilla.
Corpos carbonizados abraçados às barras, ao que parece de vítimas da demora dos guardas em liberar o acesso aos bombeiros, foram descritos por sobreviventes e legistas que entraram na prisão de Comayagua, cidade que fica 90 km ao norte de Tegucigalpa.
O porta-voz da polícia, Héctor Iván Mejía, rebateu as denúncias e alegou que os carcereiros informaram sobre o incêndio assim que perceberam as chamas.
Autoridades afirmaram que na penitenciária de Comayagua havia um total de 852 presos, dos quais 496 foram identificados entre os sobreviventes da tragédia.
Parentes de presos fazem vigília em frente à cadeia de Comayagua, centro de Honduras, na noite desta quarta-feira (15) (Foto: AP)Parentes de presos fazem vigília em frente à cadeia de Comayagua, centro de Honduras, na noite desta quarta-feira (15) (Foto: AP)
Como começouO fogo começou às 22h30 locais de terça-feira (2h30 de quarta em Brasília), segundo Danilo Orellana, chefe do setor penitenciário do país. Ele afirmou que não se tratou de uma rebelião. Segundo ele, um detento poderia ter iniciado o fogo, ou teria havido um curto-circuito. Mas os bombeiros afirmaram ter ouvido disparos dentro do prédio.
As chamas se espalharam por vários blocos do presídio.
Muitas das vítimas estavam nas celas no momento do incêndio.
Chance de fuga
Segundo relatos, alguns detentos que conseguiram escapar das chamas aproveitaram para fugir da prisão pelo telhado.

A área do centro penal está fortemente protegida pelo Exército e pela polícia, e vários familiares dos presos permanecem do lado de fora da instituição à espera de notícias.
Diante da demora de informações, cerca de 300 familiares entraram à força na prisão, depois de jogar pedras contra os policiais.
Homens, mulheres e crianças forçaram os portões da prisão e conseguiram fazer recuar os policiais que tentavam controlar a situação disparando para o ar.
Telefonema
A governadora do departamento de Comayagua, Paola Castro, disse ter recebido uma ligação de um preso informando que foi um colega que iniciou o incêndio.

"Às 23H10 (02h10 de Brasília), recebi uma ligação de um interno. Ele me contou que outro preso havia dito: 'vou botar fogo nisso e vamos todos morrer'. Ele botou fogo e estamos queimando, estamos morrendo", relatou a governadora.

Castro realizou durante anos um trabalho social na penitenciária agrícola, razão pela qual era conhecida por muitos de seus internos e por que existia uma comunicação telefônica direta entre os presidiários e a autoridade política local.

Castro, que não quis identificar o preso, afirmou que alertou imediatamente os bombeiros e a Cruz Vermelha, mas que os corpos de socorro durante muito tempo não puderam entrar no presídio, sem explicar os motivos dessa situação.

"O que aconteceu é estranho porque era um centro penal modelo", acrescentou.
Familiares
"Meu irmão Roberto Mejía estava no módulo seis. Disseram que todos desse módulo morreram", declarou Glenda Mejía, muito abalada.

A seu lado, Carlos Ramírez também esperava notícias de seu irmão, Elwin, detido por assassinato e que também se encontrava no módulo seis. "Não nos dizem nada", reclamou muito nervoso.

A prisão é um complexo agrícola localizado a 500 metros da estrada que une San Pedro Sula, a capital econômica de Honduras, e Tegucigalpa, a capital política.
Neste centro penitenciário os detentos se dedicam, entre outras atividades, ao cultivo de hortaliças e criação de porcos.

Em maio de 2004, mais de 100 presos morreram carbonizados em um incêndio no presídio de San Pedro Sula, devido, segundo as autoridades, a problemas estruturais da prisão.

Honduras conta com 24 estabelecimentos penitenciários com capacidade de albergar 8 mil pessoas, mas a população carcerária ultrapassa as 13 mil pessoas.
O país tem a mais elevada taxa de homicídios do mundo, e o sistema prisional sofre com constantes brigas de gangues.fonte g1

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