28 de setembro de 2013

Após briga com a mãe, mulher morre ao cair da janela de prédio no Jardim Botânico

Leonardo Barros, Vera Araújo e Gabriel de Menezes

Prédio do Jardim Botânico onde ocorreu o crime. À direita, reprodução do vídeo em que advogada aparecia / Foto: Gustavo Stephan e reprodução internetPrédio do Jardim Botânico onde ocorreu o crime. À direita, reprodução do vídeo em que advogada aparecia / Gustavo Stephan e reprodução internet


RIO - Um crime, no fim da noite de sexta-feira, quebrou a tranquilidade da Rua Pio Corrêa, uma via sem saída do Jardim Botânico. Vizinhos ouviram os gritos de socorro da psicóloga Norma Thereza Moraes Góes de Andrade, de 73, moradora de um dúplex no sétimo andar, de classe média, que dizia: “ela vai me matar” e “chama a polícia”. Depois de ameaçarem chamar a PM, implorando que alguém abrisse a porta, surgiu a difícil decisão de arrombar a porta do apartamento. Lá, eles encontraram a idosa caída na sala, ensanguentada, com uma faca ao lado, mas ainda lúcida. Em seguida, vizinhos ouviram um barulho. Era o corpo da advogada Liliane de Moraes Góes de Andrade, de 40 anos, que despencou da cobertura, um andar acima de onde estava a psicóloga, caindo na área do primeiro pavimento do prédio ao lado. A filha morreu na hora. A idosa está internada no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo. A polícia investiga as circunstâncias do crime e não descarta as possibilidades de uma terceira pessoa ter cometido o homicídio ou de a advogada ter se desequilibrado e caído, além do suicídio.
À polícia, vizinhos contaram ter ouvido uma suposta briga entre mãe e filha, mas os policiais recolheram impressões digitais no apartamento e imagens do circuito interno de segurança do prédio para verificarem como a advogada entrou no apartamento, se acompanhada ou não, e se ela tinha a chave da casa da mãe. Durante a perícia, foi encontrada a bolsa da advogada com remédios para emagrecer, um relaxante muscular e cachaça. Há dois anos, Liliane, que, na época, era advogada do Tribunal de Contas do Estado, ficou célebre na internet devido a um vídeo que a mostra numa delegacia visivelmente transtornada. Ela tinha sido detida com um estilete e chegou a agredir um inspetor da Polícia Civil, além de tentar bater no delegado. Após a divulgação do vídeo, frases como "Sou original de fábrica. Estou horrorosa", "Me filma e me edita" e "Só saio para fechar negócio" se tornaram virais na rede. Há 21 procedimentos em diversas delegacias da Polícia Civil, onde ela tem 21 registros. Ora ela aparece como vítima de roubos e furtos, em outra como autora de crimes como ameaças, calúnias, difamações, perturbação da tranquilidade e lesões corporais.
Um morador disse a queda ocorreu por volta de 22h.
— Vi algo caindo, mas achei que era um reboco ou algo parecido, não imaginava que era uma pessoa. Ela caiu sobre a cobertura de acrílico de uma área do apartamento que fica no primeiro andar — conta.
Flávia Barros, a delegada adjunta da 14ª DP (Leblon), onde o caso foi registrado, aguarda a liberação médica de Norma para colher um depoimento. Com ferimentos, ela foi socorrida por um vizinho médico e, posteriormente, levada ao hospital Miguel Couto. Em situação estável, ela foi encaminhada para o hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo.
— Acompanhei a perícia e conversei com alguns vizinhos. Eles ouviram uma briga. Tudo leva a crer que, após a discussão, a filha se jogou pela janela. Por enquanto, nenhuma hipótese está descartada. Para ajudar nas investigações, vamos solicitar as imagens do circuito interno do prédio — disse a delegada, acrescentando que Liliane, formada em Direito, passava por um tratamento psiquiátrico.
De acordo com o porteiro do prédio, a psicóloga não costumava receber visitas da filha. Uma das vizinhas, que mora no prédio há três anos, disse que sequer sabia que Norma tinha filhas.
— Norma é uma pessoa tranquila, nunca vimos nenhuma situação deste tipo por aqui. Ela mora sozinha e é viúva de um veterano de guerra — disse um vizinho.
Moradora da Rua Vinícius de Moraes, em Ipanema, Liliane era bastante conhecida na vizinhança por seu comportamento instável. Segundo Raimundo Nonato Silva, porteiro do prédio em frente, a advogada era bastante agressiva e não era raro vê-la em alguma confusão.
— Uma vez, ela quis agredir o pessoal da boate que tinha aqui na frente com uma faca. As pessoas comentam que ela já tinha dito também que queria matar a mãe. Também bebia demais. Ontem mesmo, por volta das 15h, estavam entregando bebida na casa dela — contou ele.
Dos 21 registros na Polícia Civil - feitos na 1ª DP (Praça Mauá), 5ªDP (Mém de Sá), 13ªDP (Ipanema), 14ªDP (Leblon) e 19ª DP (Tijuca) - onde o nome de Liliane aparece, alguns se referem ao convívio dela com vizinhos. Num deles, em 2010, a advogada registra que um vizinho teria colocado fezes de um animal na sua porta. Em outro, no mesmo ano, a vizinhança reclama do lançamento de garrafas de vidro pela janela dela.
Liliane também responde por agredir com socos nos olhos da namorada do ex-marido dela, o estilista Maxime Perelmuter, Maria Eduarda Ballesteros, numa casa de festas no Centro, também em 2010. No ano seguinte, a própria advogada acusou Maxime pelos crimes de ameaça, calúnia e difamação, mas ele conseguiu provar o contrário. Na verdade, de acordo com o Ministério Público, era ela quem o ameaçava por ciúmes.
O estilista fez um registro de denunciação caluniosa contra ela, quando ele conseguiu provar que era ela quem o ameaçava.Em 2011, quando a advogada foi acusada de agredir um taxista, a mãe chegou a ir à 5ª DP e explicou aos policiais que ela usava medicamentos controlados.
O último registro na delegacia envolvendo Liliane ocorreu em abril deste ano. Ela contou ter sido agredida numa loja de grife no Leblon. A polícia apurou que, segundo o depoimento de vendedoras da loja, a advogada foi quem entrou na loja e jogou as roupas que estavam expostas no chão. Por ter uma personalidade explosiva, investigadores estão tratando o caso com muita cautela. Para a polícia, a perícia no apartamento e o depoimento da mãe dela, Norma Thereza Moraes Góes, serão imprescindíveis para o esclarecimento do crime.
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