A história comovente de Fernando e Verônica é uma lição de vida e de solidariedade. Um momento emocionante: o pai parece não acreditar, que enfim: vida! Quietinha no berço, Ana Luiza dorme cercada de anjos. O quarto, decorado com todo cuidado, mostra o quanto sua chegada é importante na casa.
“Eu desejo para ela, que ela seja feliz”, diz a mãe, Verônica Dutra de Paiva.
Agora, com apenas um mês, Ana Luiza é a caçula de uma família com outros quatro irmãos, mas ela vai crescer como filha única.
“O Iago era amigo, para todo momento ele estava ali do seu lado. “Todos eram calmos, tirando a Yasmin que era mais brigona, mas, era boa. A Carol era carinhosa. O Cauã era um neném muito calmo, tranquilo, ía com todo mundo, ele ria”, conta Verônica.
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No dia 12 de janeiro de 2011, a alegria da família foi interrompida pela chuva em Teresópolis, na Região Serrana do Rio que matou mais de 900 pessoas. Duzentas e quatorze ainda estão desaparecidas. “A gente estava todo mundo em casa, porque no dia 13 era o aniversário da Yasmim. Então, eu estava em casa preparando a festa dela, fazendo os doces” lembra a mãe das crianças.
Verônica, os filhos e um sobrinho, José Vítor, de 9 anos, que também estava na casa, foram levados pela enxurrada. “Eu chamei os dois meninos para ficar no meu quarto comigo, porque as meninas e o neném já estavam no meu quarto. A Carol ficou com vontade de ir no banheiro. Veio aquele barulho muito forte. “Eu vi na hora que a água bateu no meu banheiro, derrubou a parede e puxou as duas para dentro do rio. Naquilo elas gritavam: ‘Mãe, socorro, socorro’. Como eu não podia pegar elas, eu corri com os outros três para minha sala, arrebentei a janela e por um buraco que tinha na minha varanda, que era uma entrada de área, eu botei os dois mais velhos. O Iago e o José Vitor botei em cima da minha laje. Só que eu não consegui subir, nem botar o neném, porque a parede quebrou e empurrou eu e o neném”, continua a contar Verônica. “Aí a água foi me carregando, quando chegou num ponto, eu senti uma pancada muito forte e eu vi o neném saindo. Eu ainda tentei pegar ele, mas eu estava com as minhas pernas presas, mas não consegui, porque a água estava puxando muito forte”.
Só Verônica sobreviveu. “Eu queria poder dormir e não acordar mais ou que acontecesse alguma coisa comigo, que nem acontece em filme. De esquecer tudo”.
No momento da tragédia, o marido Fernando trabalhava no Centro de Teresópolis e teve quer ir a pé para casa: “Vim aqui a pé, sem caminho, só em cima de trilho, de mato, passando em cima de casa dos outros, barreira. São 30 quilômetros. Saí de lá de tênis, de calça, de camisa. Cheguei aqui de sunga, sem tênis, sem calça, sem camisa”, lembra.
Fernando e Verônica moravam com as crianças em Santa Rita, que é uma das zonas rurais de Teresópolis. A casa deles ficava onde hoje passa um rio. Só sobrou parte de uma laje que, segundo ele, era parte da lavandeira, parte detrás da casa. E a gente encontrou também uma bicicleta, que era da Caroline, a filha de seis anos.
Por mais de uma semana, Fernando procurou os corpos dos filhos. Mas, até hoje os de Yasmin e Cauã não foram encontrados. Para eles, acordar para um novo dia era um desafio. Até que a solidariedade e ajuda começaram a chegar.
Duas semanas depois da tragédia, Verônica deu uma entrevista numa rádio. “A gente perdeu tudo, além de todos os bens materiais que a gente vai lutar e conseguir de volta, a gente perdeu os nossos quatro filhos”, lamentou.
A história deles chegou até um empresário, que telefonou para ela. “Eu achei que era trote”, lembra a mãe das crianças. “Aí, falou assim: ‘Não, a gente veio aqui para te ajudar. O que você precisa de ajuda?’”.
“Eu não sabia o que eu precisava. Aí, ele falou: ‘Como não sabe? Você tem que saber o que você quer.’ E eu falei: ‘Eu não sei, não. Porque eu não preciso de nada, eu não tenho mais filho, eu não tenho mais nada e nem posso ter filho’.” Verônica e Fernando não podiam mais ter filhos. Meses antes, ela tinha feito laqueadura de trompas e o marido, uma vasectomia.
O empresário do telefonema é Carlos Augusto Montenegro. Ele, que prefere não falar sobre a ajuda, deu um apartamento para o casal e pagou uma fertilização in vitro, para que Verônica pudesse engravidar novamente. “Vai dar certo e a gente vai voltar a ser feliz de novo, a vida não acabou”, relembra Verônica.
E ela estava certa. Depois da primeira tentativa, Verônica estava grávida. “No momento que nós tivemos o resultado positivo, eu confesso que foi uma festa aqui no hospital, conta o médico Luiz Fernando Dale”.
A menininha nasceu com saúde perfeita no dia 11 de março. Depois de ter quatro, não ter mais nenhum e aparecer uma abençoada para alegrar a nossa casa”, comemora o pai.
“Ela não está no lugar dos outros. Ela é ela, ela não é eles, ela não está aqui para tapar buraco deles”.
Ana Luiza hoje significa tudo: amor, felicidade, recomeço, esperança.”, diz a mãe.
“Não foi nem a gente que deu vida para ela, foi ela que deu a vida para gente”, explica o pai. fonte g1
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