12 de maio de 2017

Jovem é libertada após ser mantida em cativeiro pelo pai por ao menos dois anos, em Mogi

Uma jovem, de 21 anos, de Mogi das Cruzes,  foi libertada depois de ter sido mantida em cárcere privado pelo próprio pai por ao menos dois anos. O caso foi denunciado à Polícia Militar na quinta-feira (11). A moça afirmou que estava trancada no interior da casa sem ter contato com ninguém. Ela disse que passou fome e foi maltratada e que até cigarros eram apagados na sua pele. A jovem contou ainda que está com o pai desde que a mãe faleceu em 2006 e que desde os 12 anos não frequenta a escola.
O pai, um segurança de 46 anos, foi preso por sequestro e cárcere privado. Segundo a polícia, ele confessou que mantinha a filha trancada no interior da residência para evitar que ela mantivesse relação sexual com homens desconhecidos e disse que precisava trabalhar. Como não apresentou advogado, o caso será encaminhado à Defensoria Pública.
Os policiais foram até o endereço e encontraram a vítima trancada no interior da casa sem iluminação e em condições impróprias na tarde de quinta-feira. Segundo a polícia, todas as portas estavam trancadas. A polícia localizou o pai da garota na Rua Thuller, no Jardim Universo, em Mogi das Cruzes. Ele foi levado até a casa. Os policiais abriram a porta e libertaram a vítima. Testemunhas, vítima e o pai foram encaminhados ao 2º Distrito Policial.

Sem família

A vítima estava na delegacia durante a manhã desta sexta-feira (12), porque não tinha para onde ir. Na delegacia, a jovem parecia não compreender o que estava acontecendo. Enquanto aguardava a resposta de disponibilidade de um abrigo para recebê-la, ela estava na sala do delegado plantonista quieta, segurando as mãos e com olhar distante. A maioria das perguntas feitas pela reportagem foi respondida apenas com um “sim”, “não” ou com um gesto com a cabeça, depois de um longo silêncio pensativo.
Ainda em choque e, um pouco confusa, ela disse que seus pais eram separados e que, após o falecimento da sua mãe, uma tia teria lhe entregado ao pai.
A Secretaria Municipal de Assistência Social, por meio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social, informou que "tomará todas as medidas de proteção à vítima."

Agressões

Segundo a jovem, as marcas em seu rosto são por causa das agressões que sofria. O pai costumava apagar bitucas de cigarro em seu rosto. Além das manchas escuras na pele, sua orelha esquerda também estava deformada por causa de uma facada.
A vítima ainda disse que um dia tentou fugir pela porta, mas ela estava trancada. Logo depois que seu pai descobriu, ela relatou ter sido agredida. Apesar de tantas agressões, entre tapas, queimaduras e orelha deformada, para a jovem, a pior agressão foi outra. “Ficar sem comida”, conta.

Denúncias

Uma das testemunhas, uma mulher de 25 anos, explicou que a mãe dela era companheira do segurança e, por cinco meses, morou na mesma casa que ele. A mulher disse que viu diversas vezes a vítima ser algemada e mal tratada e que o pai a mantinha trancada por meses.
A testemunha completou que o segurança agredia a filha com socos, apagava cigarro em seu corpo, e inclusive, deu uma facada na região do pescoço, deformando totalmente a orelha da vítima. Ela disse ainda que, em outras oportunidades houve denúncias, mas ele não deixava ninguém entrar na casa.
A testemunha contou que o indiciado sempre foi muito agressivo e ameaçava as pessoas caso a polícia chegasse ao local. A jovem também relatou que ele deixava a vítima sem estudos e alimentos básicos para sua sobrevivência.
A outra testemunha, um operador de empilhadeira de 52 anos, contou que é o dono do imóvel alugado pelo segurança há cerca de quatro anos. Ele relatou que o homem usava o imóvel como cativeiro, deixando a filha trancada no interior da casa, ocorrendo maus-tratos com ela.
O operador detalhou que a jovem ficava trancada sem televisão, estudos e alimentos que a casa é bem fechada com grades nas janelas e quartos e não possui energia. Ele destacou que a vítima vivia em condições desumanas, passando fome.
O caso foi registrado como sequestro e cárcere privado. O segurança foi preso e encaminhado para a cadeia de Mogi das Cruzes. Como não tem advogado, a Polícia Civil encaminhou pedido para que a Defensoria Pública faça a defesa do suspeito.
A Secretaria Municipal de Assistência Social informou que por meio do Centro de Referência Especializado de Assistência Social, tomará todas as medidas de proteção à vítima.
Das poucas vezes que falou um a frase um pouco mais longa, a jovem acabou mostrando seus dentes com caries com manchas pretas logo na frente, talvez pela falta de cuidados nos últimos anos. Ainda assim, ela se disse feliz por estar livre e já tem planos para o futuro: “quero voltar a estudar e ser cantora”, finaliza.
O telefone para denunciar casos parecidos à Polícia Militar é o 190 e o Disque Denúncia é o 181.(G1)

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