10 de abril de 2018

Na região Suicídios geram alerta : "É um problema de saúde pública", diz especialista

O número de suicídios na região causa preocupação e gera um alerta sobre a necessidade de discutir o tema. Dados da 16ª Regional de Saúde de Apucarana mostram que de 2016 até o momento, 73 pessoas tiraram a própria vida. Só no último mês, casos foram registrados em Apucarana, Cambira, Califórnia, Jandaia do Sul e Mauá da Serra. 
Especialistas ouvidos pelo TNOnline afirmam que oferecer ajuda faz toda a diferença e pode evitar um desfecho trágico. “Infelizmente não temos um manual ou respostas prontas para essa pergunta, uma vez que, cada tentativa de suicídio apresenta suas particularidades. Mas tenho percebido na minha atuação que muitos casos de suicídio, as pessoas não se sentem pertencentes à família, a sociedade, ou ao grupo social em que se encontra inserida. Sendo assim, é de suma importância estar disponível, oferecer ajuda e fazer com que essa pessoa se sinta pertencente, acolhida, visualizada enquanto uma pessoa”, comenta o doutor e professor de psicologia, Paulo Navasconi. 
O relatório da 16ª RS revela ainda que a taxa de suicídios vem crescendo à sombra de mortes violentas como homicídio e latrocínio na região. Embora alarmante, o assunto ainda é tabu. Seja na escola ou em casa, o que leva uma pessoa a cometer suicídio e como evitar, dificilmente é tema de conversas. Mas para o especialista, é preciso discutir o assunto até para reconhecer os sinais de alerta emitidos por aqueles que precisam de ajuda. 
“É preciso desconstruir a concepção de que não é bom falar sobre suicídio. É preciso que todos se informem e se eduquem para abordar temas difíceis, mas necessários. É preciso julgar menos e fazer mais por aqueles que não conseguem fluir a vida", observa. 
Na opinião do professor, é fundamental informar e sensibilizar a sociedade de que o suicídio é um problema de saúde pública que pode ser prevenido. "Para falar sobre suicídio e adoecimento não necessariamente precisamos falar sobre o morrer. Podemos falar sobre a vida. Como estamos lidando com as nossas vidas? O que desejamos? Como estamos cuidado de nós mesmos? Qual é a qualidade de vida que estamos projetando e construindo? Essas e dentre outras questões possibilitam que trabalhemos com as questões relacionadas ao suicídio, idealização e o sentimento de não pertencimento. Precisamos construir a cultura de que precisamos sim falar sobre nosso sofrimento psíquico, precisamos pontuar essas questões com crianças, jovens e adolescentes, adultos e idosos”, enfatiza. 
Rede de apoio e acolhimento é fundamental
A especialista em psicologia, Márcia Luz aponta que as principais características de uma pessoa com tendência suicida estão relacionadas ao comportamento. Ela cita mudanças abruptas de humor, isolamento, ansiedade, tristeza constante, agitação, insônia, uso de substâncias tóxicas, verbalizações como: “queria acabar com isso tudo; não vejo mais sentido na vida. 
"Muitas pessoas acreditam que quem quer tirar a própria vida, não fica anunciando e concretiza logo o ato. Acham que a pessoa está querendo chamar a atenção. Isso não é verdade, na maioria das vezes o suicida apresenta sinais, inclusive verbalizando, como forma de pedir socorro", analisa. 
Alguns outros sinais podem surgir, como despedir-se de pessoas, muitas vezes daqueles que não via há tempos; desapego a objetos de valor afetivo, bens, organização financeira (com a intensão de não deixar pendências para a família liquidar), falar somente de situações passadas, não vislumbrando nada para o futuro.
"É de extrema relevância que as pessoas à sua volta observem esses sinais e fiquem bastante atentas. Se a pessoa apresenta tais sinais, ou verbaliza sua vontade de tirar a própria vida, é porque está realmente em sofrimento psíquico", alerta. 
Segundo a especialista, oferecer ajuda pode pode reverter a situação e fazer a pessoa repensar sobre sua condição e desistir de tirar a própria vida. 
"É possível evitar desde que as pessoas próximas estejam atentas aos sinais e acolham a pessoa de forma calorosa e empática, fazendo encaminhamentos a profissionais capacitados, sempre numa postura acolhedora e sem julgamentos ou comparando suas vidas com a de outras pessoas", explica. 
Contudo, é necessário ressaltar que, estudos consideram o suicídio como um fenômeno multideterminado, ou seja, não existe apenas uma única causa, um único motivo.
Erros na abordagem ou intervenção
Segundo o professor doutor Paulo Navasconi, a pessoa que contempla o suicídio como possibilidade de solução, de um modo geral, encontra-se em um estado de sofrimento "intolerável, inescapável e interminável". Tal visão acarreta em uma distorção da percepção da realidade que, por sua vez, gera avaliação negativa de si mesmo e do mundo. 
"Neste contexto de distorção, estamos falando de uma pessoa que não encontra-se num estado emocional saudável e, portanto, que está, neste momento de sofrimento intenso, incapaz de tomar decisões conscientes sobre si mesma e os outros. Por este motivo, devemos ficar atentos a possíveis ideias sobre suicídio que podem levar ao erro na abordagem e intervenção junto a este paciente", informa
De acordo com o professor os erros mais comuns são:
- “Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir a pessoa a isso” – Questionar sobre ideias de suicídio, fazendo-o de modo sensato e franco, aumenta o vínculo com aquele que sofre. Este se sente acolhido por um profissional cuidadoso, que se interessa pela extensão de seu sofrimento.
- “Ele está ameaçando suicídio apenas para manipular” – A ameaça de suicídio sempre deve ser levada a sério. Chegar a esse tipo de recurso indica que a pessoa está sofrendo e necessita de ajuda. 
- “Quem quer se matar, se mata mesmo” – Essa ideia pode conduzir ao imobilismo terapêutico, ou ao descuido no manejo das pessoas sob risco. Não se trata de evitar todos os suicídios, mas sim os que podem ser evitados. 
- “Quem quer se matar não avisa” – Pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam haviam comunicado de alguma maneira sua intenção para amigos, familiares ou conhecidos. 
- “O suicídio é um ato de covardia (ou de coragem)” – O que dirige a ação auto-infligida é uma dor psíquica insuportável e não uma atitude de covardia ou coragem. 
(Conteúdo extraído do Boletim de prevenção CVV)
"Tenho observado nos meus estudos e nos casos que acompanho sobre suicídio de jovens e adolescentes que a maioria deu algum tipo de aviso, que pode não ter sido percebida. Portanto, é importante que os pais se aproximem mais do seu filho, conversem, pratiquem atividades de lazer em conjunto e conheçam os sinais de alerta para que as crianças/adolescentes que poderiam ser suicidas possam conseguir a ajuda que precisam", alerta.
O especialista destaca que é fundamental manter um olhar atento sobre o comportamento da pessoa, principalmente quando ela está deprimida e afastada. "Por exemplo, quando um adolescente que tira boas notas passa a tirar más notas, pode sinalizar que se passa algo com ele. E novamente não necessariamente isso poderá levar a pessoa tentar o suicídio ou diz respeito que ela vai tentar. Apenas um indicativo de alerta", explica. 
Outro fator importante para ajudar é manter as linhas de comunicação abertas e manifestar a sua preocupação, apoio e amor. 
Setembro Amarelo
A especialista em Psicologia, Márcia Luz, destaca que a campanha “Setembro Amarelo” é uma importante iniciativa de prevenção, no entanto, ela acredita que ainda há necessidade de ampliar os canais de ajuda e de campanhas sobre o tema. 
"Não somente de um mês que fale sobre o tema, mas sim um trabalho constante e intenso com programas de conscientização em diversas áreas da saúde, educação, dentre outras”, enfatiza. 
Márcia acredita que a população deve se informar e procurar debater sobre temas polêmicos. "Mudanças só ocorrem com a mobilização em massa", assinala. 
A especialista elencou o que considera importante para reduzir o número de casos de suicídios: 
- Promover suporte e reabilitação a pessoas com comportamento suicida.
Melhorar o diagnóstico e tratamento dos transtornos mentais (depressão, transtorno bipolar, etc).
- Aumentar a atenção a profissionais da saúde sobre o tabu existente em relação aos transtornos mentais e tentativas de suicídio (infelizmente muitas pessoas que são internadas por tentativa de suicídio são tratadas de forma pejorativa por alguns profissionais da saúde, claro que não são todos, mas infelizmente ainda há muitos). 
- Identificar e reduzir a disponibilidade de instrumentos para o comportamento suicida (armas de fogo, excesso de remédios, etc).
- Subsidiar a mídia sobre como apresentar a notícia do suicídio, sem romantizá-la e destacar os detalhes, mas antes focar na divulgação de serviços de atendimento.
- Promover suporte aos amigos e familiares de pessoas que se suicidaram.
Trabalho constante de conscientização nas escolas, inclusive dentro dos currículos escolares sobre o respeito, necessidade de acolhimento e orientações sobre os serviços de suporte e atendimento.
Sinais de alerta:
– Isolamento
– Irritabilidade
– Piora no rendimento escolar
– Uso de álcool e drogas
– Outra mudança considerável de comportamento
 Como agir:
– Não tenha medo de falar, perguntar e mostrar que se importa
– Seja franco e direto
– Conversar gera alívio, mesmo que o jovem recuse num primeiro momento, insista
– Se avaliar que é necessário, busque ajuda especializada de um psicólogo ou psiquiatra(Tnonline)

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